Muitos de nós já estivemos diante do inevitável pensamento de se vingar. Isso acontece com todos, invariavelmente. Mas o que há de verdadeiro por trás desse sentimento? Primeiro, precisamos entender o significado de se sentir enganado ou traído.
Os que mais têm esse impulso são os que se doam ou se jogam num relacionamento seja amoroso, profissional ou de amizade, sem se preocuparem com limites. É como num jogo. Vou sufocar a pessoa de atenção, amor, confiança e se houver falha do outro, me ressentirei, me tornarei vítima e, em alguns casos, me vingarei. Todo excessivo doador de si, no fundo quer ter o controle sobre o outro.
O outro, por sua vez, ou não consegue sair do “atencioso subjugo” ou parte para a agressão como forma de se libertar (muito comum entre pais e filhos, casais).Mas, o que leva uma pessoa a viver esse papel de “excessivamente preocupado” com as necessidades dos outros?
Muitas vezes é por ter tido uma infância em que a cultura vigente era ser “bonzinho” ou “solidário” com as pessoas, pois poderia não ser aceito ou amado, caso não fosse. Isso ainda é uma prática comum na educação dos filhos para mantê-los sob controle.
Com esse código do amor aprendido desde a infância, não é de se estranhar a quantidade de relacionamentos que caem por terra. Os pais ensinam aos seus filhos uma equivocada forma de viver o amor.
Quando não é através da subserviência, o que traz uma baixa auto-estima constante, é através de jogos de sedução e manipulação aprendidos com a convivência familiar. Existem também aqueles pais que superprotegem tanto os filhos que esses acabam se tornando adolescentes e adultos frágeis, vulneráveis e inseguros diante das escolhas naturais da vida.
E quanto mais amorosamente controladores forem esses pais, mais difícil ficará sair da cilada. Muitos pacientes me relatam a dificuldade de dizerem aos pais o quanto aquela superproteção lhes causou dano, pois sentem-se culpados em reclamar, afinal foram criados por pessoas maravilhosas…
Normalmente, salvo algumas exceções, os adolescentes reagem com rebeldia para sairem desse jogo manipulador. Começam a se comportar de forma diametralmente oposta ao que seria aprovado pela família, como uma maneira de afirmar sua independência como seres individualmente livres. Seria um jeito de expulsar as imagens internalizadas de pai e mãe, tomando posse, em definitivo, de sua vida.
A rebeldia, guardadas as devidas proporções, pois cada caso é um caso, não deixa de ser um “grito de saúde e independência”. Aqueles que não conseguem sair dessa malha, possivelmente seguirão esse manual do opressor e do oprimido e, quando não obtiverem o resultado aprendido, partirão para uma atitude vingativa, como se decepcionados ou traídos pelo que aprenderam.
A vingança nada mais é do que punir aquele que não se submeteu ao jogo de manipulação, seja esse jogo de uma forma carinhosa ou autoritária. Precisamos compreender que as pessoas desempenham os papéis que precisamos que elas desempenhem por nossa “contratação” e que se nos causam decepção ou nos fazem sentir-se desamparados ou traídos é para nos mostrar o quanto estamos distantes de nós mesmos, dependendo a todo instante de sermos aprovados ou acolhidos pelo outro a fim de nos sentirmos amados.
Para acabar com esse sofrimento é necessário amar-se primeiro para não fazê-lo através de quem quer que seja, aí sim, estaremos prontos para interagir amorosamente com quem quisermos, sem jogos, sem ressentimentos e sem vingança.
Vera Ghimmel/Aninha
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