Afortunadamente, a importância pessoal tem um ponto fraco: Ela depende do reconhecimento para subsistir. Se não damos importância à importância pessoal, esta se acaba.
A importância que nos concedemos em cada uma das coisas que fazemos, dizemos ou pensamos, embaça todos os nossos sentidos e nos impede de perceber a vida de forma clara e objetiva.
Segundo Carlos Castañeda, somos como pássaros atrofiados. Nascemos com todo o necessário para voar, porém estamos permanentemente obrigados a dar voltas em torno de nosso ego.
A corrente que nos aprisiona é a importância pessoal. O caminho para converter um ser humano normal num guerreiro é muito árduo.
Sempre intervém nossa sensação de estar no centro de tudo, de sermos necessários e termos a última palavra. Nós nos sentimos importantes.
E quando a pessoa é importante, qualquer intento de mudança se converte em um processo lento, complicado e doloroso.
Depois de experimentar durante séculos situações que “filtram” nossos modos de perceber o mundo, passamos a acreditar que estamos obrigados a viver em uma única realidade.
Mas o universo está construído com princípios muito maleáveis, que podem se acomodar em formas quase infinitas de percepção. A partir desta “simplificação” humana, fixamos nossa atenção em apenas um desses níveis, moldando-nos a ele e aprendendo a senti-lo como se fosse único.
Assim surgiu a idéia de que nós vivemos em um mundo exclusivo e, conseqüentemente, gerou-se o sentimento de ser um 'eu' individual.
Não há dúvidas de que a descrição que nos deram de realidade é uma possessão valiosa, e tem permitido que cresçamos como pessoas normais numa sociedade modelada para essa “simplificação”.
Para isso, tivemos que aprender a “desnaturar”, ou seja, fazer leituras seletivas do enorme volume de informações que chegam aos nossos sentidos.
Mas, uma vez que essas leituras filtradas se tornam “a realidade”, a fixação da atenção funciona como um “antolhos”, pois nos impede de tomar consciência de nossas incríveis possibilidades.
Don Juan sustentava que o limite da percepção humana é a timidez. Para poder manipular o mundo que nos cerca, tivemos que renunciar ao nosso patrimônio perceptivo que é a possibilidade para testemunhar tudo.
Desse modo, nós sacrificamos o vôo da consciência pela segurança do conhecido. Nós podemos viver vidas fortes, audazes, saudáveis; podemos ser guerreiros impecáveis, mas não ousamos!
Nossa herança é uma casa estável onde viver, mas nós a transformamos em uma fortaleza para a defesa do eu, melhor dizendo, em um cárcere onde condenamos nossa energia a consumir-se em prisão perpétua.
Nossos melhores anos, sentimentos e forças se vão no conserto e na sustentação daquela casa porque nós acabamos nos identificando com ela. Quando uma criança se torna um ser social, ela adquire uma falsa convicção de sua própria importância.
E aquilo que no princípio era um sentimento saudável de autopreservação, acaba se transformando em uma exigência ególatra por atenção.
A importância pessoal, dos presentes que recebemos, é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um orgulhoso assustado e com medo de ser feliz.
Por causa da importância pessoal, estamos cheios de rancores, invejas, medos, culpas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos do importante SERVIÇO do autoconhecimento, com pretextos como a preguiça, maior inimigo da espiritualidade.
Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural. A importância pessoal é homicida, trunca o livre fluxo da energia e isso é fatal.
Ela é a responsável pelo nosso fim como indivíduos. Quando aprendermos a deixar a importância pessoal de lado, o espírito se abrirá, jubiloso, como a ave que é posta em liberdade.
Para combater a importância pessoal, o primeiro passo é saber que ela está aí. Reconhecer seus esconderijos, seus “óculos escuros” e “peneiras” já é meio caminho andado.Assim, pegar uma cartolina e escrever:
A importância pessoal mata!
Pendurem num lugar bem visível para você. Leia esta frase diariamente, tente se lembrar dela no seu trabalho, medite sobre ela. Talvez chegue o momento em que seu significado penetre em seu interior e você decida fazer algo.
O dar-se conta é por si mesmo uma grande ajuda. A importância pessoal se alimenta de nossos sentimentos, que podem ir do desejo de estar bem e ser aceito pelos outros, até a arrogância e o sarcasmo.
Mas sua área de ação favorita é a compaixão por si mesmo e pelos demais. De forma que para espreitá-la, temos, acima de tudo, que decompor nossos sentimentos em suas mínimas partículas, descobrindo suas fontes de nutrição.
Pergunte-se:
Por que me levo tão a sério? Quão apegado estou? A que dedico meu tempo?
Estas são coisas que nós podemos começar a mudar, acumulando energia suficiente para liberar um pouquinho de atenção. E isso, por sua vez, permitirá que entremos mais no exercício.
Por exemplo, comece a dedicar mais o seu tempo para fazer exercícios físicos, recapitular sua história, ficar mais sozinho e ser sua melhor companhia.
Observe e reavalie os alimentos que valoriza ingerir. Parece algo simples, mas com essas práticas nosso panorama sensorial se redimensiona. Recuperamos algo que sempre esteve aí e que tínhamos dado por perdido.
A partir dessas pequenas mudanças, podemos analisar elementos mais difíceis de detectar, nos quais nossa vaidade se projeta até a demência.
Por exemplo:
Quais são minhas convicções? Eu me considero imortal? Sou especial? Mereço que me considerem?
Este tipo de análise entra no campo das crenças, a mera fortaleza dos sentimentos. Assim devem empreender essa análise através do silêncio interno, estabelecendo um fervoroso compromisso com a honestidade.
Caso contrário, a mente fará uso de todo tipo de justificativas. Carlos Castañeda afirmava: Um modo de definir a importância pessoal é entendendo-a como a projeção de nossas fraquezas através da interação social.
É como os gritos e atitudes prepotentes que adotam alguns animais pequenos para dissimular o fato de que na realidade eles não têm defesas.
Somos importantes porque nós temos medo, e quanto mais medo, mais ego.
A informação que precisamos para ampliar a nossa consciência se esconde (?) nos lugares mais fáceis. Se não fôssemos tão rígidos (importantes) como normalmente nos colocamos, tudo à nossa volta nos contaria segredos incríveis.
Somente precisamos abrir nossos sentidos/percepções, que inicialmente estão instalados em nosso corpo físico, dependentes do bom funcionamento dos 5 sistemas excretores que são: pulmão, fígado, rins, intestinos e pele.
Uma vez desintoxicados, ou melhor, buscando esta desintoxicação diariamente, torna-se cada vez mais fácil acessar o conhecimento, que inicialmente pode nos chegar devagarinho, mas a força do desapego constante irá nos levar ao DESPERTAR. Conceição Trucom/Aninha
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