quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A Importância Pessoal


Afortunadamente, a importância pessoal tem um ponto fraco: Ela depende do reconhecimento para subsistir. Se não damos importância à importância pessoal, esta se acaba.

A importância que nos concedemos em cada uma das coisas que fazemos, dizemos ou pensamos, embaça todos os nossos sentidos e nos impede de perceber a vida de forma clara e objetiva.

Segundo Carlos Castañeda, somos como pássaros atrofiados. Nascemos com todo o necessário para voar, porém estamos permanentemente obrigados a dar voltas em torno de nosso ego.

A corrente que nos aprisiona é a importância pessoal. O caminho para converter um ser humano normal num guerreiro é muito árduo.

Sempre intervém nossa sensação de estar no centro de tudo, de sermos necessários e termos a última palavra. Nós nos sentimos importantes.

E quando a pessoa é importante, qualquer intento de mudança se converte em um processo lento, complicado e doloroso.

Depois de experimentar durante séculos situações que “filtram” nossos modos de perceber o mundo, passamos a acreditar que estamos obrigados a viver em uma única realidade.

Mas o universo está construído com princípios muito maleáveis, que podem se acomodar em formas quase infinitas de percepção. A partir desta “simplificação” humana, fixamos nossa atenção em apenas um desses níveis, moldando-nos a ele e aprendendo a senti-lo como se fosse único.

Assim surgiu a idéia de que nós vivemos em um mundo exclusivo e, conseqüentemente, gerou-se o sentimento de ser um 'eu' individual.

Não há dúvidas de que a descrição que nos deram de realidade é uma possessão valiosa, e tem permitido que cresçamos como pessoas normais numa sociedade modelada para essa “simplificação”.

Para isso, tivemos que aprender a “desnaturar”, ou seja, fazer leituras seletivas do enorme volume de informações que chegam aos nossos sentidos.

Mas, uma vez que essas leituras filtradas se tornam “a realidade”, a fixação da atenção funciona como um “antolhos”, pois nos impede de tomar consciência de nossas incríveis possibilidades.

Don Juan sustentava que o limite da percepção humana é a timidez. Para poder manipular o mundo que nos cerca, tivemos que renunciar ao nosso patrimônio perceptivo que é a possibilidade para testemunhar tudo.

Desse modo, nós sacrificamos o vôo da consciência pela segurança do conhecido. Nós podemos viver vidas fortes, audazes, saudáveis; podemos ser guerreiros impecáveis, mas não ousamos!

Nossa herança é uma casa estável onde viver, mas nós a transformamos em uma fortaleza para a defesa do eu, melhor dizendo, em um cárcere onde condenamos nossa energia a consumir-se em prisão perpétua.

Nossos melhores anos, sentimentos e forças se vão no conserto e na sustentação daquela casa porque nós acabamos nos identificando com ela. Quando uma criança se torna um ser social, ela adquire uma falsa convicção de sua própria importância.

E aquilo que no princípio era um sentimento saudável de autopreservação, acaba se transformando em uma exigência ególatra por atenção.

A importância pessoal, dos presentes que recebemos, é o mais cruel. Converte uma criatura mágica e cheia de vida em um orgulhoso assustado e com medo de ser feliz.

Por causa da importância pessoal, estamos cheios de rancores, invejas, medos, culpas e frustrações. Nós nos deixamos guiar pelos sentimentos de indulgência e fugimos do importante SERVIÇO do autoconhecimento, com pretextos como a preguiça, maior inimigo da espiritualidade.

Por trás de tudo isso há uma ansiedade que tentamos silenciar com um diálogo interno cada vez mais denso e menos natural. A importância pessoal é homicida, trunca o livre fluxo da energia e isso é fatal.

Ela é a responsável pelo nosso fim como indivíduos. Quando aprendermos a deixar a importância pessoal de lado, o espírito se abrirá, jubiloso, como a ave que é posta em liberdade.

Para combater a importância pessoal, o primeiro passo é saber que ela está aí. Reconhecer seus esconderijos, seus “óculos escuros” e “peneiras” já é meio caminho andado.Assim, pegar uma cartolina e escrever:

A importância pessoal mata!

Pendurem num lugar bem visível para você. Leia esta frase diariamente, tente se lembrar dela no seu trabalho, medite sobre ela. Talvez chegue o momento em que seu significado penetre em seu interior e você decida fazer algo.

O dar-se conta é por si mesmo uma grande ajuda. A importância pessoal se alimenta de nossos sentimentos, que podem ir do desejo de estar bem e ser aceito pelos outros, até a arrogância e o sarcasmo.

Mas sua área de ação favorita é a compaixão por si mesmo e pelos demais. De forma que para espreitá-la, temos, acima de tudo, que decompor nossos sentimentos em suas mínimas partículas, descobrindo suas fontes de nutrição.

Pergunte-se:

Por que me levo tão a sério? Quão apegado estou? A que dedico meu tempo?

Estas são coisas que nós podemos começar a mudar, acumulando energia suficiente para liberar um pouquinho de atenção. E isso, por sua vez, permitirá que entremos mais no exercício.

Por exemplo, comece a dedicar mais o seu tempo para fazer exercícios físicos, recapitular sua história, ficar mais sozinho e ser sua melhor companhia.

Observe e reavalie os alimentos que valoriza ingerir. Parece algo simples, mas com essas práticas nosso panorama sensorial se redimensiona. Recuperamos algo que sempre esteve aí e que tínhamos dado por perdido.

A partir dessas pequenas mudanças, podemos analisar elementos mais difíceis de detectar, nos quais nossa vaidade se projeta até a demência.

Por exemplo:

Quais são minhas convicções? Eu me considero imortal? Sou especial? Mereço que me considerem?

Este tipo de análise entra no campo das crenças, a mera fortaleza dos sentimentos. Assim devem empreender essa análise através do silêncio interno, estabelecendo um fervoroso compromisso com a honestidade.

Caso contrário, a mente fará uso de todo tipo de justificativas. Carlos Castañeda afirmava: Um modo de definir a importância pessoal é entendendo-a como a projeção de nossas fraquezas através da interação social.

É como os gritos e atitudes prepotentes que adotam alguns animais pequenos para dissimular o fato de que na realidade eles não têm defesas.

Somos importantes porque nós temos medo, e quanto mais medo, mais ego.

A informação que precisamos para ampliar a nossa consciência se esconde (?) nos lugares mais fáceis. Se não fôssemos tão rígidos (importantes) como normalmente nos colocamos, tudo à nossa volta nos contaria segredos incríveis.

Somente precisamos abrir nossos sentidos/percepções, que inicialmente estão instalados em nosso corpo físico, dependentes do bom funcionamento dos 5 sistemas excretores que são: pulmão, fígado, rins, intestinos e pele.

Uma vez desintoxicados, ou melhor, buscando esta desintoxicação diariamente, torna-se cada vez mais fácil acessar o conhecimento, que inicialmente pode nos chegar devagarinho, mas a força do desapego constante irá nos levar ao DESPERTAR. Conceição Trucom/Aninha

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